Sistemas educativos, modelos e tendências evolutivas na sociedade atual.

30-11-2014 21:34

 

Segundo Edgar Morin “ O papel da educação é de nos ensinar a enfrentar a incerteza da vida, é de nos ensinar o que é o conhecimento, porque nos passam o conhecimento mas jamais dizem o que é o conhecimento. (…) Em outras palavras, o papel da educação é de instruir o espírito a viver e a enfrentar as dificuldades do mundo”. O papel da educação é desenvolver no individuo a sua capacidade de raciocínio, reflexão que o levará a entender que só a aquisição de conhecimentos contribuirá para o seu desenvolvimento sócio, cultural e económico. Sem a educação, uma formação de capacidades não teremos como garantir uma vida estável e cidadã. Como cita Delors, 2003 “Uma nova conceção ampliada da educação devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental das educação, considerada como a via obrigatória para obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem económica), e se passe a considerá-la em toda a sua plenitude, realização da pessoa, na sua totalidade, aprende a ser.” É necessário investir na formação como crescimento da própria pessoa, para que esta se torne agente da sua própria formação e não se verifique uma perda de confiança no sistema educativo. Para isso, o sistema educativo deverá também ele sofrer uma mudança. A escola estática, encerrada em si própria, com projetos estanques, como única detentora dos saberes está cada vez mais descontextualizada. Deve-se portanto, criar uma cultura escolar que por si só seja um espaço em que os próprios alunos participem ativamente no planeamento e acompanhamento dos diferentes projetos. Cabe aqui ao professor/educador enquanto agente educativo as tarefas de observação e guia, em suma o mediador da própria formação. Há portanto a necessidade de colocar em prática a estratégia de Lisboa, o alargamento do conceito de formação em que vivemos como por exemplo as necessidades impostas pela era da sociedade digital, bem como a implementação de uma política das novas oportunidades assentes na verdadeira vocação do individuo como agente ativo da sociedade. No entanto, esta igualdade de oportunidades, como o próprio nome indica, deverá ser uma igualdade de oportunidades para todas as pessoas e não apenas uma estratégia governamental que não passe do papel o que por si só levaria a mais desigualdades. Há ainda também uma enorme necessidade do sistema educativo se adaptar a um emergente contexto multicultural, cada vez mais presente na nossa sociedade, em que as diferenças entre várias culturas são cada vez mais marcantes. Deve então o sistema educativo tornar-se mais aberto a estas mudanças, pondo de lado um ensino normalizado, em que os professores eram os detentores de um saber absoluto e fechado, o que por si só impede um conhecimento do ser humano, em que este é único mas que deve ser incluído numa sociedade que é global e que deve merecer a atenção de todas as reformas educativas. Por outro lado, o aparecimento das tecnologias de informação e comunicação deu origem a um novo espaço de conhecimento globalizado, exigindo um repensar dos papeis sociais e a formação de uma nova identidade política, originando também um novo conceito de cidadania, que reflete a criação de uma nova cultura de relações sociais. Mundialmente assiste-se à transformação social dos vários contextos económico, cultural e político e consequentemente à influência que esta transformação exerce sobre os sistemas educativos. Não podemos provavelmente dizer que de facto existe uma a crise na educação, pois, o sistema implementado a nível educativo não representa atualmente um fenómeno de insatisfação pois vê os seus objetivos assumidamente cumpridos. Contudo, não se sabe a verdadeira finalidade deste sistema, nem como esta pretende, orientar a sua ação. O cenário é de grande transformação social, processo que está tendencialmente voltado para a criação de uma nova estruturação social, tornando importante o reconhecimento por parte dos agentes sociais, de que o conhecimento é imperioso para proceder à explicação das novas formas de intervenção e de organização social e económica. Seguindo esta perspetiva, conhecer e perceber o contexto onde estamos inseridos, faz com que sintamos a necessidade de ter um conhecimento global para podermos articular os conhecimentos adquiridos e ter conhecimento dos problemas no mundo. Ao nível sociopolítico surge uma maior densidade de informação e de conhecimentos com recurso frequente aos instrumentos tecnológicos disponíveis. Assim, as novas tecnologias fizeram com que a humanidade entrasse na era da comunicação universal diminuindo as distâncias, mas por outro lado impossibilitando o acesso por parte de muitos países, aos sistemas de informação por serem demasiado caros. Contudo, houve a necessidade de refletir sobre o papel da educação na sociedade, implicando uma abordagem dos problemas relativamente à definição dos conhecimentos e das capacidades de formação exigida e da forma institucional como conduz o processo de formação. A procura de educação para fins económicos não parou de crescer na maior parte dos países porque a intervenção humana é cada vez mais evidente assim como a necessidade de formar agentes económicos com capacidade de utilizar as novas tecnologias. Os sistemas educativos devem procurar dar repostas a esta necessidade, apostando na formação, ou seja, não assegurando apenas os anos de escolaridade ou de formação profissional. A formação começa a ser uma exigência, dada a verdadeira transformação social ao nível das tecnologias de informação o que requer, por parte do indivíduo uma atualização permanente das situações e problemáticas ao nível da escala mundial. É necessário pensar então que sentido atribuímos à escola, pois a escola atual é muito diferente da escola de há vinte, trinta e até mesmo de há dez anos. É fundamental a perceção dos alunos, mas também é relevante a perceção de todos os agentes educativos que intervêm direta ou indiretamente na escola. As mudanças na forma como pais, professores, funcionários e serviços de administração percecionam, entendem e sentem a escola são importantes para definir o que se pretende fazer na e com a escola. É necessário atribuir à escola o sentido de utilidade, integração e vocação, e porventura alterar os modelos e métodos pedagógicos tornando-os mais dinâmicos, mais adaptados a novas realidades, mas sempre orientados para objetivos bem delineados, pois vivemos numa sociedade global cada vez mais intrincada e em constante mutação, o que nos obriga a uma permanente atualização de conhecimentos para assim nos adaptarmos à mesma. Ora aqui, a educação tem também ela uma importância extrema, pois deverá ser capaz de preparar os indivíduos para este tipo de sociedade, para que possam desenvolver competências e assim participarem e interagirem num mundo cada vez mais global e competitivo dando valor à flexibilidade, criatividade e assim estarem aptos a encontrar soluções para os problemas do dia-a-dia. Assim, a educação ou melhor, os projetos educativos, não podem ser estanques mas sim capazes de dar resposta às competências exigidas por esta sociedade, não poderá pois existir aprendizagem limitada ao espaço escola. E aqui, assume papel preponderante o ensino à distância na medida em que vem proporcionar uma oportunidade de extrema importância, só possível com o aparecimento e o desenvolvimento das novas tecnologias nomeadamente a internet que nos permite um acesso rápido à informação em qualquer espaço físico e/ ou momento, alargando os horizontes para a formação e autoformação em qualquer fase da vida do individuo e onde o blended learning se assume como estratégia decisiva. O blended learning com a rápida evolução tecnológica, da internet e do acesso e usabilidade das plataformas, em espaços de aprendizagem formais ou não formais, tornou-se numa valiosa ”ferramenta” com grandes potencialidades, pois como refere José Alberto Lencastre, “ uma metodologia de blended learning pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer momento: enquanto esperamos na fila do autocarro ou pelo comboio, por exemplo”, oferecendo desta forma oportunidades aos indivíduos que por falta de tempo nunca poderiam frequentar o ensino superior. Graham, C (2006), citado por José Alberto Lencastre (2012) aponta seis razões que aumentaram a utilização da metodologia blended learning no ensino superior: 1. riqueza pedagógica, 2. Acesso ao conhecimento, 3. Interação, 4. Personalização, 5. Custos, 6. Facilidade de revisão. As principais razões para os estudantes optarem por esta modalidade é precisamente pelo facto de melhorar a pedagogia, existir facilidade de acesso e flexibilidade e uma razão muito importante é o ser mais económico. No entanto para se tirar o máximo de proveito desta modalidade, e como explica Salmon (2002), citado pelos autores Angélica Monteiro e J. António Moreira “[…] é fundamental a tarefa do docente no sentido de promover o acesso, gerar motivação, facilitar a interação social e participar na troca de informações […]”. Assim sendo, e para que este tipo de ensino tenha sucesso, o papel dos educadores é de elevada importância, uma vez que é o responsável pela motivação da turma para que os alunos “levem a bom porto” o seu processo de ensino aprendizagem. Deverão portanto facultar todos os recursos necessários, proporcionar a interação entre os envolvidos professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno, assegurar um constante feedback aos assuntos colocados pelos intervenientes, motivando e fomentado a interação entre o grupo assumindo-se como o moderador de todos os assuntos sujeitos a discussão. O professor deverá ainda ter a capacidade de conseguir “desafiar” os alunos no bom sentido, fomentando nestes, níveis elevados de interesse para assim incitar uma forte motivação no que aos temas abordados diz respeito. É pois necessário dar um passo em frente na educação do no nosso país, é necessário uma mudança nas atuais tendências das práticas pedagógicas, que com o rápido desenvolvimento da sociedade e o avanço das novas tecnologias, devem envolver os estudantes em ensaios de aprendizagem mais ricas e variadas. Encontrando-nos nós no século XXI, no qual a sociedade tende cada vez mais a depender da Web 2.0 e do networking, verifica-se assim a necessidade de acompanhar as novas tecnologias, e como tal, adaptar as mesmas ao sistema de ensino ou vice-versa.

 

Bibliografia:

 

DELORS, J. [coord.] (1996). Educação um Tesouro a Descobrir – Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Porto: Edições ASA.

 MONTEIRO, A., MOREIRA, J. A., ALMEIDA, A. C. & LENCASTRE, J. A. (2012). Blended Learning em Contexto Educativo. Santo Tirso: De Facto.

MORIN, E. (2002). Os Sete Saberes para a Educação do Futuro. Lisboa: Instituto Piaget.

TEDESCO, J. C. (1999). O Novo Pacto Educativo: Educação, Competitividade e Cidadania na Sociedade Moderna. Porto: Fundação Manuel Leão.